terça-feira, 30 de setembro de 2008

Encontro



Era a solidão e uma grande quantia de timidez figuradas em um só homem. Trinta e dois anos, divorciado, sem filhos e, como exclusiva companhia em sua casa, nosso herói tinha: a internet. Nada mais.

O maduro ser sucumbia nas salas de bate-papo à procura do solene amor. Era esse o derradeiro recurso de uma pessoa extremamente tímida que conseguia se expressar, apenas, em frente a um monitor. Salvo temporariamente da sua timidez ele até conseguia conversar com um número vultoso de pessoas. Ainda assim, ninguém interessante. Nenhum de seus relacionamentos virtuais vingava, até aquele dia.

Uma mulher com uma conversa inteligente e bastante interessante finalmente entrou em contato. Ela afirmava ter visto o perfil dele no orkut e apreciado muito. Achava-o atraente em todos os sentidos. Animado, o esperançoso foi conferir a página da moça também, que tinha tudo com que ele sempre sonhou, havia se depararado com a tão idealizada alma gêmea, encontrando-se até as mesmas veleidades. O único problema era a falta de uma foto no perfil dela. Daí a dúvida: Como fariam para se encontrar? A sua “paquera” descreveu-se morena, corpo escultural, rosto repleto de serenidade e beleza, usaria um “tomara-que-caia” branco e calças jeans. Estaria esperando-o em um banco em frente ao cinema. Superando todos os medos e acanhamentos o auspicioso aceitou prontamente e viu naquele encontro seu renascimento. Era a vida fluindo em seu corpo com intensidade mais uma vez.

Na data, hora e local combinado veio o impacto, a decepção. Ele não havia se aproximado muito, de uma distância segura pôde ver. No banco escolhido para o encontro, estava uma morena. Entretanto nada escultural: era obesa! Seu rosto parecia estar ao avesso e voltado direto e constantemente para o sol devido à deformidade de sua face feia. Usava um “tomara-que-não-caia-jamais-nem-por-acidente-ou-vontade-própria” branco e um jeans prestes a explodir que devia ter brotado ali, pois o decepcionado não imaginava como aquilo havia sido vestido.

Derrotado pela maldita mentira que se fazia presente, nosso herói foi embora, voltou para a já conhecida e odiada solidão. Jamais deveria confiar em conversa via web, passaria a ser como Tomé.

Dez minutos atrasada, uma morena dotada de um corpo atrevidamente perfeito e um rosto angelical sentou-se ao lado de uma figura adiposa com vestes toscamente semelhantes às suas e passou a esperar alguém que não viria jamais.


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