segunda-feira, 1 de junho de 2009

Uma



Gostava de beijar-lhe a barriga lavada pela água do nosso banho, o sabor da água misturada ao seu corpo era um elixir para eu me deleitar.

Lembro dos olhos dela, que pareciam se mover em câmera lenta, semicerrados de prazer, firmes de tesão, me encaravam apaixonadamente, e enquanto o momento me entorpecia e hipnotizava, ela me perguntava, suavemente, com sua boca molhada: “O que é?”.

Discutiríamos por conta dessa situação algumas horas mais tarde, pois eu nunca conseguia dizer “o que era”, não era capaz de emitir um silvo que seja em resposta, nem que eu conseguisse obter algum som, jamais me depararia com as palavras necessárias para descrever a sensação do magnetismo exercido por seus olhos, no momento em que nos amávamos.

Enquanto fazíamos amor, nossas mãos estavam sempre juntas, os dedos enlaçados pelo fio invisível e inviolável de nossa união. Aquele era o nosso momento, falassem o que falassem. Às vezes ela chorava, e então eu quem perguntava, mordendo-lhe a orelha: “O que é?”. Beijando-me, com as lágrimas nascendo em seus olhos e morrendo após deslizar docemente pelo meu rosto, ela dizia: “Choro porque, um dia, iremos nos separar, a morte está aí para isso. Choro porque sei que, de uma forma ou outra, uma de nós ficará só e estou chorando ou por mim, ou por você...”

Nunca tive medo de estar só, ela estava errada. Não só amigas, confidentes, irmãs ou cúmplices. Éramos uma só. Enquanto dávamos as mãos, eu e ela, juntas, nos amando, éramos uma só pessoa, estávamos sempre “sozinha” e “feliz”, como um indivíduo em sua forma original, completo.

Por isso que, quando ela se foi, eu já havia me decidido por ir embora também. Não com medo de ficar só, mas porque um ser humano não sobrevive incompleto.



Adeus.


Sarah Elise


sábado, 14 de março de 2009

Sorriso de Mulher



O sorriso. Algo tão trivial. Quantos sorrisos nós podemos ver por dia? Por semana? Por mês?

Mas eu pergunto, e quero ver quem ousa responder: Quantos têm a sinceridade da própria verdade? Quantos sorrisos, de fato, te fazem sorrir junto, mesmo você naquele triste dia em desalento? Quantos sorrisos não são um mero alargamento dos lábios com uma exibição gratuita de dentes?

Eu sou impetuoso e respondo. Quase nenhum. Raros. Raríssimos.

Quantos sorrisos te permitem ver que ainda existe algo de admirável no cerne das pessoas?

Esse é ponto mais difícil. Como pode um sorriso ser tão franco e arder tanto ao plano de fazer você esquecer-se da beleza exterior de uma pessoa?

Falar de belas feições é fácil demais. Descrever o quanto uma mulher linda é linda é quase uma tarefa de criança. Discorrer uma declaração, registrar um poema, escrever um romance inteiro baseado apenas em uma irresistível aparência não te dará grandes créditos, salve-se por um extenso vocabulário, mas beleza é algo que todos vêem, apaixonante para qualquer um, basta que possua olhos que funcionem bem.

Muitas vezes a beleza exterior encobre a beleza interior para quem vê e ainda mais para quem possui.

Mais difícil que não se perder por ser belo e preservar a própria formosura interior, é encontrar um indivíduo que admire essa formosura, esse encanto íntimo, profundo e fascinante, acima de tudo, encontrar alguém que valorize esse que é o atrativo mais verdadeiro existente, e que não se deixe cegar pelo que é fácil de ver.

A beleza, em suas diferentes formas é algo que, sinceramente, me encanta absurdamente. Mas sou alguém que contempla o etéreo, prefiro sentir ao invés de ver.

Inclusive um extenso e suntuoso sorriso de mulher.


segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Objetivo!?



Tenho a escrita furiosa. Inconsciente, inconseqüente e deturpada. As palavras demoram a cair, e quando caem, permanecem imóveis, são pesadas, mortas, sem as grandes contribuições que um desabafo, por mais miserável que fosse, tivesse a obrigação de me proporcionar.

Chega. É o limite. Não vejo objetivos, não vejo destino, eu não posso enxergar mais nada. É o fundo do poço. O ápice da minha decadência. Se eu cair mais um pouco volto ao inferno, lugar que eu jurei nunca mais voltar. Ocioso, ocioso... No amor, nas virtudes e na vida que um dia eu sonhei em ter.

Tenho a escrita pobre. Inconveniente, incompetente e arrastada. Tortuosa. Sinto o vazio das palavras vazarem por entre os meus dedos trêmulos, desastrados e medrosos. A vida que antes urrava e se deliciava com os delírios de fortuna, agora bebe e traga a melancolia da leviandade.

Por obséquio, sirva-me mais um copo cheio.

Vou me embriagar de desespero mais uma vez. Tentar fazer meu orbe girar sem o menor sentido, quem sabe caio na órbita certa...

Sou como uma criança. Frágil.

Depositado por entre os lençóis frios, no cume da escuridão da noite sem nenhum acalanto. Não que fosse sentir saudades de algo que não fez parte do meu sono, mas, de certa forma, me sinto desprovido de uma segurança que nunca foi autêntica. Desesperado, com medo do perigo iminente que me cerca, me provoca, me acerta na cara, exigindo uma reação que não posso desempenhar, pois sou como uma criança. Frágil.

Retire a minha máscara com suas mãos suaves. Ofusque o brilho forjado dos meus olhos com o fulgor do seu semblante. Quebre meu sorriso tecido pela minha camuflagem com um beijo terno e me devolva à vida.

Eu só quero um desígnio, pelo qual eu anseie continuar a enfrentar tudo isso.