segunda-feira, 1 de junho de 2009

Uma



Gostava de beijar-lhe a barriga lavada pela água do nosso banho, o sabor da água misturada ao seu corpo era um elixir para eu me deleitar.

Lembro dos olhos dela, que pareciam se mover em câmera lenta, semicerrados de prazer, firmes de tesão, me encaravam apaixonadamente, e enquanto o momento me entorpecia e hipnotizava, ela me perguntava, suavemente, com sua boca molhada: “O que é?”.

Discutiríamos por conta dessa situação algumas horas mais tarde, pois eu nunca conseguia dizer “o que era”, não era capaz de emitir um silvo que seja em resposta, nem que eu conseguisse obter algum som, jamais me depararia com as palavras necessárias para descrever a sensação do magnetismo exercido por seus olhos, no momento em que nos amávamos.

Enquanto fazíamos amor, nossas mãos estavam sempre juntas, os dedos enlaçados pelo fio invisível e inviolável de nossa união. Aquele era o nosso momento, falassem o que falassem. Às vezes ela chorava, e então eu quem perguntava, mordendo-lhe a orelha: “O que é?”. Beijando-me, com as lágrimas nascendo em seus olhos e morrendo após deslizar docemente pelo meu rosto, ela dizia: “Choro porque, um dia, iremos nos separar, a morte está aí para isso. Choro porque sei que, de uma forma ou outra, uma de nós ficará só e estou chorando ou por mim, ou por você...”

Nunca tive medo de estar só, ela estava errada. Não só amigas, confidentes, irmãs ou cúmplices. Éramos uma só. Enquanto dávamos as mãos, eu e ela, juntas, nos amando, éramos uma só pessoa, estávamos sempre “sozinha” e “feliz”, como um indivíduo em sua forma original, completo.

Por isso que, quando ela se foi, eu já havia me decidido por ir embora também. Não com medo de ficar só, mas porque um ser humano não sobrevive incompleto.



Adeus.


Sarah Elise


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